terça-feira, 8 de novembro de 2011

Consultora internacional considera boa a produção das Mulheres da Palha

Zöe Melo, ex-modelo brasileira, decidiu, no ano 2000, deixar as passarelas e se dedicar ao ativismo ambiental. Profissional desde os anos 80 e tendo tido sua fase de maior sucesso nos anos 90, abandonou tudo por se dizer cansada da cultura urbana. Estudou a fundo possibilidades menos efêmeras de trabalho, deparando-se com a possibilidade de unir design industrial e arte em uma mesma profissão. Trabalhou com marcas como Moroso, Molteni, Ycami, Anta e Danskina até que, em 2007, fundou a Touch, sua empresa de consultoria que se propõe a usar do eco-design. Sendo assim, só trabalha com produtos feitos a partir de matéria prima de manejo sustentável. Zoë se divide entre a consultoria de design e o movimento ambiental, trabalhando com artistas, associações sem fins lucrativos e outras empresas.

Em passagem pelo Cariri, por ocasião da II Semana de Design de Produtos da UFC, Zöe conversou conosco. Na pauta, o interesse pelo design sustentável e sua opinião quanto aos produtos das “Mulheres da Palha” que foram expostos durante o evento.

Mulheres da Palha: Qual o seu principal interesse dentro do ramo do artesanato?

Zöe Melo: O nosso trabalho é com o design e muitos dos projetos têm o craft, que é o artesanato. Então, eu gosto muito disso pelo fato de ser sempre um produto que tem um aspecto cultural, regional, tem toda a parte das tramas, tem realmente a mão das pessoas que são daquela região. Portanto, ali está mesmo a estampa cultural do local. Meu trabalho envolve um trabalho junto com o estudante e um trabalho junto com o designer de produtos. Então, normalmente a gente desenvolve produtos no qual tenha uma forma diferente, dá outro aspecto ao trazer algum material para aplicar com a palha, digamos. E criar um produto que mantenha a parte artesanal, mas que seja o craft e o design ou o design e arte.

Mulheres: Como definir o design sustentável?

Zöe: Essa é um pergunta bastante difícil. Eu acho que nós podemos separar essas duas palavras. Eu acho mais fácil definir o design social, a sustentabilidade é uma palavra separável de tudo isso. O design, o artesanato, são todos elementos que podem ser sustentáveis. Porque o design sustentável seria o que, ao longo do tempo, se torna sustentável. Então, não dá para você criar um produto sustentável, sem você esperar para ver se esse projeto é realmente sustentável, ou não. Então, não tem uma definição clara. O produto que acabou de ser criado não pode ser um design sustentável. Requer um tempo para que isso seja, realmente, colocado.

Mulheres: Durante os oito anos que você trabalha com design sustentável, você já trabalhou com algum outro artesanato parecido com o das Mulheres da Palha?

Zöe: Eu já vi muitos trabalhos de palha. Trabalhei já bastante na Indonésia, viajo muito pelo Vietnã, e mesmo no Brasil, e tem muitos trabalhos bons. Mas elas têm um aspecto ali fresco, sabe? Não é que não tenha visto outros trabalhos de palha, mas elas têm uma identidade, elas têm um bom produto. Eu acho que elas têm uma boa história, então, tem muitos elementos dentro do produto delas que pode fazer com que tenham um negócio bem sucedido.

Mulheres: Elas têm um ‘conceito’?

Zöe: Sim, elas têm. E acho bacana do jeito que é. Acho que tem um bom gosto na seleção das cores que elas introduzem. É muito bacana. E tem a história delas juntas, tem uma organização. Adorei o cordel, achei muito legal que elas tenham transformado a historinha delas em um. Faz com que o trabalho delas se torne ainda mais regional. É muito legal.

Mulheres: Do ponto de vista da sustentabilidade, o que mais chama atenção nos produtos das Mulheres da Palha que, na realidade, já é centenário?

Zöe: Ainda não tive tempo de sentar para olhar toda a parte da história, mas, se já tem cem anos, obviamente ele é sustentável. Cem anos, é sustentável. Não precisa ser eu para dizer algo sobre a sustentabilidade do projeto. Parabéns!

Mulheres: Nesses produtos, tem como unir o caráter humano com o talento dessas mulheres? Ou isso já acontece?

Zöe: Ah, já acontece. É obvio que é um produto feito manualmente. Elas estão por trás do projeto. É uma questão de administração, divulgação, branding, comunicação do projeto. Não sei a parte de logística. Eu acho que tenha que fazer, talvez, uma análise, em que ponto esse produto está e o que pode ser feito com ele. Mas, fora isso, eu acho que ele está muito bom.

Mulheres: Esses produtos vão contra a cultura urbana?

Zöe: Bom, de certa forma sim. Ali tem tantos elementos. Por não ter um designer envolvido, são elas mesmas que criam o produto. É uma coisa muito artesanal. Elas não têm nenhum elemento urbano. Isto não faz parte da cultura delas. Todos os elementos nos produtos são regionais. São formas. Eu consigo ver elementos gráficos que tem cores nas casas, pequenos relevos que elas aplicam na palha. Isso é muito bacana.

Mulheres: O que falta a estes produtos para atingir um público maior e quais os pontos fortes deles?

Zöe: Eu não tenho ainda um diagnóstico completo para dizer o que elas devem fazer. Mas elas têm produção. Se a gente tá falando de cem anos, isso significa que já há um grupo grande de pessoas treinadas com essa técnica. Pode ser o desenvolvimento de outro produto, pegar esse e trazer ele para um mercado maior. Então, é apenas uma questão de comunicação, uma questão de realmente atingir as lojas, uma questão de ter um preço competitivo. Porque isso é parte do branding. Eu traria alguns elementos para ele. Digamos, as etiquetas. Mas há uns ajustamentos que podem ser feitos. Esse produto pode ser colocado dentro de um mercado maior.

Leylianne Alves

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